Desde a pré-história que o Homem explora os recursos mineiros com vista à obtenção de matérias primas que possam satisfazer as suas necessidades. A abertura e fecho de instalações industriais destinadas à produção e tratamento de minérios tem sido ditada por factores económicos e tecnológicos. Embora a actual legislação portuguesa garanta um encerramento das unidades mineiras consentâneo com o desenvolvimento sustentável, no passado, o abandono das áreas afectadas pela exploração de recursos minerais foi efectuada sem os devidos cuidados e constitui uma importante fonte de contaminação antropogénica, susceptível de criar alterações no meio ambiente, desde as mais imperceptíveis até às que causam severos impactos sob o meio circundante onde se instalaram.
As zonas de acumulação de desperdícios (escombreiras) das minas metalíferas abandonadas encontram-se na maioria dos casos a céu aberto, estando deste modo expostas a intempéries, o que possibilita a contaminação de águas, sedimentos, solos e vegetação provocada pela dispersão e subsequente acumulação de elementos químicos tóxicos, nomeadamente metais pesados. O impacto ambiental é especialmente intenso quando o minério era essencialmente constituído por sulfuretos. Estes minerais são particularmente instáveis nas condições prevalecentes na superfície da Terra dando origem a águas ácidas e ricas em metais pesados poluentes que integravam o minério. Como resultado directo, as zonas de escombreira e os solos circundantes permanecem estéreis já que de um modo geral as plantas não conseguem prosperar em solos tão ácidos e com concentrações anormalmente elevadas de metais. Os sistemas aquáticos são extremamente susceptíveis de ser contaminados pela actividade mineira, uma vez que permitem a solubilização dos metais e actuam como dispersante natural dos contaminantes, incorporando-os nos solos e lixiviando-os total ou parcialmente a águas subterrâneas, estendendo deste modo o problema.
As áreas mineiras inactivas ou em situação de abandono podem então conduzir a danos irreparáveis nos ecossistemas, sendo os estudos de impacto ambiental extremamente importantes, na medida em que permitem identificar os riscos inerentes.
Em Portugal existem mais de 100 áreas mineiras abandonadas e o problema é particularmente importante no Alentejo devido principalmente à Faixa Piritosa Ibérica (FPI), pois os minérios explorados, essencialmente sulfuretos, são instáveis originando águas muito ácidas e libertando metais potencialmente tóxicos como o chumbo, arsénio, mercúrio, cádmio, antimónio, selénio, etc..
Consciente da problemática e das suas competências a Universidade de Évora tem procurado desenvolver investigação conducente à percepção dos processos inerentes a estas fontes de poluição e à sua remediação. Esta investigação tem sido consolidada nos projectos financiados pela FCT “Retenção de metais poluentes por minerais secundários em minas abandonadas: o exemplo da Mina de S. Domingos” (coordenado pelo Centro de Geofísica de Évora) e “GERMINARE – Geoquímica e Remediação de Minas abandonadas e Regiões Envolventes” (coordenado pelo Centro de Química de Évora). O primeiro tem como objectivos essenciais, identificar os minerais secundários que resultam da alteração química dos minerais e das escórias metalúrgicas e os processos que permitem a alguns desses minerais reter metais pesados poluentes. Espera-se que os resultados possam contribuir para melhorar a nossa compreensão dos mecanismos de dispersão de poluentes nestes ambientes geoquímicos.
O projecto GERMINARE, tem como objectivo avaliar os impactos ambientais de diversas minas abandonadas no Alentejo, e aprofundar o conhecimento dos processos que ocorrem nestes sistemas, através de uma caracterização biogeoquímica detalhada das áreas mineiras e das suas envolventes. Este projecto tem como objectivo último a implementação de estratégias de remediação destas áreas através do desenvolvimento de tecnologias sustentáveis de fitoremediação dos solos com recurso a plantas acumuladoras e tolerantes e de bioremediação das águas de escorrência com recurso a processos biotecnológicos.
Por
António Candeias*
José Mirão**
* Prof. Dep. Química da ECTUE e Centro de Química de Évora (CQE)
** Prof Dep. Geociências da ECTUE e Centro de Geofísica de Évora (CGE)
Publicado no Jornal "Diário do Sul" em 17/5/2007
Disponível no Jornal On-Line da Universidade de Évora (UELine)
Sem comentários:
Enviar um comentário