A Química Vista por ... Luís Oliveira

 

A Química tem um grande impacto na Sociedade, não só na atualidade, mas também em toda a nossa História. No decorrer da evolução da Humanidade, a Química nasceu como produto da curiosidade em entender o mundo que nos rodeia.

O fenómeno do fogo foi um dos primeiros mistérios que o ser humano procurou desvendar e o uso deste, eventualmente, levou-nos até ao estudo e manipulação de metais em meados do século 5 a.c., quando o cobre foi pela primeira vez descoberto e utilizado como material para fabricar ferramentas através do processo de fundição. Séculos mais tarde foi criada a primeira liga metálica combinando cobre e estanho de modo a formar um metal mais duro, o bronze, batizando assim uma nova Era do desenvolvimento Humano. Posteriormente, viu-se a prevalência do ferro como metal de eleição para ferramentas cortantes e armas, contudo, a evolução do ferro enquanto material deu-se mais lentamente, pois eram necessárias temperaturas mais elevadas para conseguir trabalhar o metal. Esta mudança resultou no aprimoramento dos métodos de fundição, na melhoria da tecnologia de fornalhas e também no desenvolvimento dos processos de forjamento, em oposição aos processos de fundição utilizados previamente na Idade do Bronze. Foram também, durante a Idade do Ferro, desenvolvidos muitos dos elementos básicos do desenvolvimento urbano como os cimentos, argamassas e betumes que deram origem à urbanização de grandes cidades e por consequência a construção de estradas, o que evidencia o impacto profundo que a Química tem, teve e continuará a ter na Sociedade.

No entanto, apesar de todas as maravilhas da Química que permitiram à Humanidade um destaque notório de quaisquer outros seres vivos conhecidos, o ser humano nem sempre utilizou a Química com as melhores intenções em mente, algo que pode ser evidenciado pela História dos venenos. Inicialmente eram utilizados como uma ferramenta de caça para acelerar e garantir a morte da presa, mas eventualmente, devido à perversão do ser humano, começaram a desempenhar proeminentemente funções mais nefárias. Durante a Era do Império Romano eram principalmente utilizados como método de assassinato, disfarçados como especiarias ou diluídos em líquidos, independentemente da classe social. Na Europa Medieval, o uso de venenos tornou-se mais popular devido à sua disponibilidade em lojas e apotecários como produtos medicinais, e daí, substâncias que tradicionalmente eram utilizadas para fins curativos foram empregues para concluir objetivos mais sinistros.

Assim, podemos concluir que o impacto que a Química tem na Sociedade estende-se até às raízes da própria Sociedade. A Química é tudo o que nos rodeia, visível ou invisível, e afeta-nos diariamente quer notemos ou não. Apesar de todo o progresso alcançado, o ser humano continua a ter um enorme potencial e será o uso da Química que irá ditar o nosso sucesso ou a nossa decadência.

 

Webgrafia

https://www.science.org.au/curious/chemistry

https://www.bionity.com/en/encyclopedia/History_of_poison.html

 

Luís Oliveira

Aluno da Licenciatura em Química da Universidade de Évora

 

 

 

A Química Vista por ... Rúben Silva

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A vontade de querer estudar os compostos à nossa volta de modo a perceber as suas interações com o fim de melhorar e criar novas aplicações para esses produtos é notoriamente um interesse para a humanidade. A generalização do uso dessas novas tecnologias leva a uma dependência dos recursos utilizados para as manufaturar, podendo esses recursos ser finitos à pequena escala ou prejudiciais ao ambiente depois de sintetizados em produto final, numa relação onde os benefícios que esses produtos trazem à sociedade supostamente superam os danos causados ao meio ambiente. Em suma, as desvantagens só existem porque tentaram-se criar vantagens.

A imagem pública da química tem mudado para o melhor nas últimas décadas. Enquanto outros cientistas tais como matemáticos e físicos sempre foram vistos como pessoas que simplesmente gostavam de número e contas, os químicos eram maioritariamente associados às poções malvadas e aos fumos das fábricas. Duas razões que dou para a nova reputação mais favorável da química são a preocupação pelas alterações climáticas e propagação da internet e redes sociais.

Mesmo quando não existia esta preocupação com sermos mais “verdes” e o meio ambiente, o fumo das fábricas nunca foi visto com bons olhos. Fumo é feio, tapa o céu e cheira mal; ainda por cima o fumo libertado pelas chaminés das fábricas eram em tais quantidades que podiam ser associados a incêndios.  Essas paisagens de chaminés já não são comuns e essa sua falta ajudam a esquecer esses sentimentos negativos.

Com a globalização da internet e consequente divulgação de informação, a química começou a ser reconhecida como algo diferente da alquimia, isto é, os produtos da química começaram a ser identificados como o desenlace da investigação e experimentação, e não como magia e pseudociência. Esse novo fluxo de informação e maior confiança nos cientistas criou o sentimento que a ciência está preocupada em criar produtos bons e que funcionem, ao contrário da busca pela pedra filosofal.

Assim, a Sociedade civil tem uma visão muito mais favorável da química, com a grande maioria tendo a noção que tudo é feito de químicos, tudo pode ser tóxico em certa quantidade e que nem todos os químicos foram criados em laboratório. Mesmo assim, essa visão mais favorável ainda roça a indiferença, ao contrário de outros membros de laboratórios mais associados à criação de vacinas.

 

Rúben Silva

Aluno da Licenciatura em Química da Universidade de Évora

A Química vista por ... Igor Almeida

Positivity

Assim, como em relação a outras ciências, nós, humanos, estamos constantemente a tentar colocar a Química sob uma coleira de conhecimento e dominar suas aplicações para os nossos serviços. Isto pode-se evidenciar em vários progressos revolucionários, que atualmente podem ser considerados alicerces mundanos, que tiveram a sua origem ou contaram com a participação da Química.1

Porém, toda a repercussão negativa dessas aplicações, que tem gerado tanto medo, não vem da ciência em si, vem do nosso conhecimento da Química, que já se provou limitado/curto, em múltiplas ocasiões, para um dado problema. A necessidade de aumentar gradualmente a rigorosidade das nossas aplicações da Química, de acordo com o conhecimento obtido, deve ser sempre proporcional à sua necessidade como área de investigação. O resultado de não alongarmos continuamente essa coleira do conhecimento e a rigorosidade com a qual exercemos a Química, é sermos arrastados por ela por quaisquer caminhos que ela sempre trilharia naturalmente, caminhos que talvez não consigamos entender ou ter esperança de controlar, porque a Química não escolhe ser ou fazer tudo o que conhecemos e associamos a ele, de modo que não há um bom comportamento a ser incutido nele, porque como algo natural ao próprio universo, não é nem bom nem mau, apenas ... é, ou melhor, apenas acontece. 

A previsibilidade das consequências (positivas/negativas) da implementação de qualquer progresso científico que se consiga, a Química não sendo exceção, não é total, mas “A química continuará a ter um papel importante na resolução de muitos dos problemas que o nosso mundo enfrenta hoje e na criação de novas soluções”2. Separar o que a química é, do que podemos, devemos e faremos com ela é a chave para determinar o ritmo necessário para limitar a ambição humana, mas não inibir o seu potencial.

 

1 https://theconversation.com/five-chemistry-inventions-that-enabled-the-modern-world-42452 

2  Rodrigues, Sérgio. (2016). What Chemistry! Between the Fascination with Pessimism and the Faltering Before Optimism – QUE QUÍMICA! ENTRE O FASCÍNIO PELO PESSIMISMO E A HESITAÇÃO PERANTE O OPTIMISMO. Química (Boletim da SPQ) 140. 27-35.

 

Igor Almeida

Aluno da Licenciatura em Química da Universidade de Évora

A Química Verde vista por Ana Carolina Assis

 

O termo Química Verde começou a ser utilizado na década de 90, do século XX, quando começou a existir uma preocupação crescente com as consequências que os processos químicos e os resíduos destes poderiam produzir na saúde humana e no meio ambiente.

Existem várias definições de Química Verde (termo adotado pela IUPAC) uma das mais usuais é a definição proposta por Paul Anastas e Pietro Tundo “A invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos químicos e processos, para reduzir ou eliminar, o uso e a geração de substâncias perigosas à saúde humana e ao meio ambiente” (P. Tundo et al., 2000).

Visando a implementação de uma Química tendencialmente mais verde, em 1995, os Estados Unidos da América lançaram o programa denominado “The Presidential Green Chemistry Challenge” (PGCC), com o objetivo de premiar inovações tecnológicas que possam vir a ser implementadas na indústria para redução da produção de resíduos, em diferentes sectores de produção. Normalmente são premiados trabalhos em cinco categorias: académico, pequena empresa, rotas sintéticas alternativas, condições reacionais alternativas e desenho de produtos químicos mais seguros. Em 2016 foi introduzida a categoria benefícios ambientais específicos: alterações climáticas. Estes prémios são atribuídos até aos dias de hoje (EPA, 2020). Este foi o primeiro de muitos prémios semelhantes que foram instituídos noutros países como Inglaterra, Itália, Austrália e Alemanha.

Em 2001 e 2005 os prémios Nobel da Química foram atribuídos a pesquisas em áreas da Química que foram amplamente vistas como sendo Química Verde. Estes prémios Nobel ajudaram a solidificar a importancia da pesquisa em Química Verde e ajudaram a criar uma maior consciência entre os cientistas de que o futuro da Química deveria ser mais verde (ACS, 2021).

Nas últimas duas décadas, a Química Verde tem vindo a ser cada vez mais adotada e foram desenvolvidos novos produtos químicos e aprimorados milhares de processos químicos, de modo a torná-los menos perigosos, para a saúde humana e para o ambiente. O número de artigos relacionados com Química Verde bem como o fator de impacto dos jornais da área aumentou substancialmente.

 

A Química Verde está diretamente relacionada com dois grandes campos, o meio ambiente e meio económico. Com vista estas duas principais influências, foram formulados os doze princípios da Química Verde por Paul Anastas e John Warner (Anastas, P. T. e Warner, J.C., 1998). Serão abordados dois destes princípios que estão diretamente relacionados com o meio ambiente e aproveitamento de resíduos.

O princípio 7, O uso de biomassa como matéria-prima deve ter prioridade no desenvolvimento de novas tecnologias e processos. Tem particular interesse na área de aproveitamento de resíduos e na necessidade de utilização de fontes renováveis de matéria-prima (biomassa). Materiais derivados de plantas e outras fontes biológicas renováveis ou reciclados devem ser utilizados, sempre que possível. O princípio 6, Os impactos ambientais e económicos causados pela geração da energia utilizada num processo químico precisam de ser considerados. É necessário o desenvolvimento de processos que ocorram à temperatura e pressão ambientes. Quando as reações e/ou processos requerem diferença de temperatura ou pressão é necessária energia para que estas alterações ocorram. Normalmente o suprimento de energia para estas necessidades vem da queima de combustível fóssil, não renovável. Esta dependência dos combustíveis fósseis causa grandes problemas ambientais e é necessário cada vez mais fazer a transição entre a utilização de combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis.  

A química verde tem vindo a ser incluída na formação académica dos jovens em todo mundo para que exista uma maior consciencialização. Esta é uma área da química que tem vindo a ser cada vez mais desenvolvida e irá continuar a ser.

 

Ana Carolina Assis | Aluna do Mestrado de Química da Universidade de Évora

31.01.2021

 

Bibliografia

·        ACS. (2021). ACS Chemistry for Life. https://www.acs.org/content/acs/en.html

·        Anastas, P. T. e Warner, J.C.(1998). Green Chemistry: Theory and Practice. Oxford University Press: New York.

·        P. Tundo et al., Pure Appl. Chem. 72(7), p.1207-1228, 2000

·        United States Environmental Protection Agency. Green Chemistry Challenge Winners. https://www.epa.gov/greenchemistry/green-chemistry-challenge-winners

 

Fonte Imagem:

·        Marco, B. A., Rechelo, B. S., Tótoli, E. G., Kogawa, A. C., & Salgado, H. R. N. (2019). Evolution of green chemistry and its multidimensional impacts: A review. Saudi Pharmaceutical Journal, 27(1), 1–8. https://doi.org/10.1016/j.jsps.2018.07.011