A Química vista por ... António Pereira

Confrontar as vantagens com as desvantagens da química tem sido ao longo dos tempos objecto de infindáveis comentários e análises, sob incontáveis pontos de vista. E este é um dilema tão antigo quanto a humanidade, a Química não é excepção, tem um vasto número de vantagem assim como algumas e pesadas desvantagens. Exactamente como qualquer outro ramo do saber.


Mas se quisermos ser justos é preciso dizer que não será a Química em si a portadora de tais etiquetas, será o ser humano, esse sim o responsável e aquele que pode fazer a balança pender para qualquer dos lados, seja porque a aplica aos piores dos fins, seja porque omite a aplicação de tecnologias químicas úteis, conhecidas e avançadas com o egoísta propósito de aumentar substancialmente mais um pouco os lucros da indústria ( o nosso país e o mundo estão repletos destes tristes exemplos).

A Química já hoje constitui um sector industrial fortíssimo no planeta e em todo o lado se faz notar a sua omnipresença. Vejo ainda assim, uma larguíssima margem de progressão para o futuro deste ramo do saber.

Assim sendo, o meu comentário ao tema foca-se no combate às desvantagens da Química trabalhando em simultâneo com o desenvolvimento das suas vantagens, projectando por essa forma a Química para patamares de importância muito superiores aos actuais.

Quanto ao combate às desvantagens tudo parece bem melhor encaminhado agora. O paradigma está a mudar, as novas gerações já não escolhem a velha química clássica e poluente de má imagem. Escolhem produtos mais verdes, exigem mais proteção do ambiente.

A energia para a mobilidade moderna parece ser um excelente exemplo do que referi, energias renováveis a despontar, automóveis eléctricos e camiões movidos a hidrogénio são agora preferidos em detrimento das centrais eléctricas a carvão, dos automóveis a combustíveis fósseis.

Do lado das vantagens também crescem exponencialmente as boas notícias.
Obviamente ainda subsiste a velha Química, a clássica e em certos caso muito poluente. Mas a Química parece ser hoje uma disciplina muito mais integrada com outros saberes do que no passado, com a ciência dos novos materiais, com a biologia, por exemplo. Cresce a nanotecnologia, a biotecnologia e a inovação a ritmos nunca antes vistos. Cresce a pesquisa e o desenvolvimento em recursos renováveis, na defesa e sustentabilidade do meio ambiente, na integração com tecnologias da informação e comunicação. É inegável que os cidadãos de hoje são muito mais informados e têm outros requisitos. Exigem alimentos mais saudáveis, iluminação menos poluente, energias limpas. A oferta e a influência da Química está a aumentar, de per si ou integrada com outras disciplinas.

Ilustrando com um exemplo português de Química na agricultura. A seguir ao eucalipto, temos agora a nova invasão descontrolada e desregrada da monocultura da oliveira (uma desvantagem), que já provou ser um erro, com práticas bárbaras praticadas especialmente por espanhóis sem escrúpulos (veja-se a agressão que os lagares de bagaço provocam em algumas regiões do Alentejo, em volta dos quais se tornou impossível viver para as populações que já lá estavam). Regime intensivo de pesticidas e herbicidas.
Temos por outro lado o grande desenvolvimento do país em energias renováveis (uma vantagem), eólica, solar e outras reduzindo ano após ano a dependência do petróleo, refinarias e centrais a carvão.

As vantagens nos campos da medicina, agricultura, industria, etc são obvias e seria exaustivo estar aqui a particularizá-las. Mas não resisto a trazer à discussão o crescimento exponencial de investigação & desenvolvimento , o empenho na busca da solução para a actual pandemia. Laboratórios, universidades, companhias farmacêuticas, muitos deles a jogar com os seus profundos conhecimentos químicos de forma integrada afim de vencer este obstáculo.

Um último exemplo aqui trazido à coação ainda no campo das energias limpas, um dos sectores mais importantes da Química verde: Apreciei sobremaneira a joint-venture celebrada nesta semana entre a Daimler Trucks e a Volvo Group, os dois maiores construtores mundiais de camiões, selando um investimento de 1 200 milhões de euros no desenvolvimento da produção de células de combustível a hidrogénio, tanto para camiões como para carros.


António Pereira
Professor de quadro da Escola Secundária de Estremoz.
AF@QV

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