"Outbreak - Fora de Controlo" (Wolfgang Petersen, 1995), onde Dustin Hoffman, Rene Russo e Morgan Freeman lutam contra um vírus que infeta a Califórnia, trazido para a América por um macaco africano.
Este filme transporta-nos, num momento crucial e de grande atualidade para a importância da química “no seu melhor” e o que podem dela fazer “no seu pior” sendo a química uma ciência por excelência utilitária, ou seja a elaboração de qualquer produto ou a sua transformação pertencem-lhe por direito.
Está patente o processo dicotómico vantagens e desvantagens, luta-se até à exaustão pela procura da solução, indo ao cerne do problema, e encontrar uma vacina, um soro, ou optar pela sua desvantagem e eliminar o problema, sem ir ás suas causas, lançando uma bomba (também ela parte integrante da química) e exterminar a população.
O ser humano é capaz dos maiores feitos, mas também de tomar as decisões mais cruéis e utilizar o conhecimento para as piores ações e aqui reside a grande desvantagem para a química, a utilização que dela fazemos.
O filme permite explanar toda a química desde a nossa própria existência, criação do mundo e sua destruição, os materiais e a evolução tecnológica, o meio pelo qual chega até nós, cinema ou televisão, o ar que respiramos que nos purifica, cujo processo se pode definir como uma simples vela a arder, ou que nos intoxica na presença de componentes inadequados.
Sem química simplesmente não existimos. Somos seres vivos, formados por um conjunto de órgãos onde se processam reações químicas que garantem o metabolismo essencial à vida.
A “química do coração” que nos transporta para o seu pulsar com os seus impulsos elétricos e a interligação com a biologia, a “química emocional”, quando surge “ uma química entre nós” e ao bater do coração se associa “ aquela sensação boa na barriga” e portanto a “ química cerebral” e aí temos o hipotálamo e a amígdala a comandar as operações.
Somos também, felizmente, curiosos; queremos saber como as “coisas” são... Hoje fiz referência em família sobre o texto refletido acerca da química. Um dos membros referiu “isso é sobre roldanas” …. Numa primeira reação referi “isso é Física”. Mas… de que são feitas as roldanas? Num exercício de pensamento complexo, entre a confusão, no meio de um jogo infinito de inter-retroações, e a solidariedade entre os fenómenos, a sua incerteza e contradição, chegamos à essência da química enquanto ciência. Estuda as estruturas mais simples, átomos, moléculas, iões, como se combinam, como se organizam, que formas podem adquirir, como reagem e que novas formas podem surgir.
Perceciona-se que o saber não pode existir desunido, compartimentado e as caraterísticas destas “ pequenas unidades” têm conduzido ao evoluir da ciência e da tecnologia, desde a área da saúde, com a referenciada vacinação e a importância da descoberta da penicilina, à agricultura no controlo dos fatores
bióticos, na alimentação explicando por exemplo a transformação das clara batidas, que passam de um líquido viscoso e transparente a opacas e sólidas. Na criminalidade através de análise forense e no controle de normas face à perigosidade dos produtos químicos.
Enquanto educadores temos um papel crucial na desmistificação da noção de que tudo o que envolve a química é perigoso conduzindo a nossa ação para formar cidadãos cientificamente preparados ligando a química a todo o nosso dia a dia. É assim fundamental a interligação dos conceitos de ensino- aprendizagem com a utilidade e a ligação à sociedade.
Sobre esta matéria refira-se o 7º Encontro de Professores de Física e Química onde diversas temáticas desenvolvidas, a título de exemplo, o magnetismo terrestre, os materiais electrocrómicos e os mecaeletroquímicos: materiais surpreendentes para uma eletroquímica fascinante, química forense, frutos antioxidantes e sua importância numa alimentação saudável, extração e doseamento da cafeína em bebidas energéticas, contribuíram para a focalização na interdisciplinaridade e transversalidade dos conceitos e sua aplicabilidade aportando valor acrescentado à divulgação da ciência, ao ensino e à formação de docentes.
Para terminar importa referir o papel dos investigadores, a titulo de exemplo a perspetiva de avanço na eletrónica molecular, podendo vir a substituir a eletrónica inorgânica, e proporcionar-nos sistemas mais sustentáveis https://www.ua.pt/pt/noticias/9/62505.
Concluo assim, que toda a evolução e melhoria da qualidade de vida pode ser considerada a grande vantagem da química e que o desconhecimento e a má utilização, quer seja voluntário ou involuntário, sejam cada vez mais minimizadas enquanto desvantagens.
Maria Beatriz Antunes
Professora no Agrupamento de Escolas André de Gouveia
AF@QV
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