Como professora, a minha preocupação, para além do
cumprimento das diretrizes emanadas pelo Ministério da Educação, é acima de
tudo tentar desenvolver nos jovens uma consciência crítica e responsável. Neste
âmbito, penso que o papel da Química como ciência capaz de dar resposta a uma
diversidade de questões, pode desempenhar um papel importantíssimo.
Alguém nomeou os nossos jovens como “geração Z”, não
sei se são Z ou Y, o que me vou apercebendo é que não têm tempo para esperar.
Querem respostas rápidas e curtas. Encontrar vítimas e culpados. São capazes de
abraçar apaixonadamente causas, mas também rapidamente se desmotivam. Estas características
e tempos, são muitas vezes incompatíveis com os tempos da ciência e do
conhecimento por ela produzido.
Os link selecionados nesta formação abordam um
conjunto de temas ilustrativos do papel da ciência, particularmente da Química
e da Tecnologia Química.
Questiono-me se fará sentido falar em vantagens e
desvantagens da Química? Se a função da Química é gerar conhecimento, não será,
só por si, isso uma vantagem? O cerne da questão não deverá antes ser deslocado
para nós? Que utilização fazemos nós desse conhecimento?
Como docente de jovens que se encontram numa fase
importante de tomada de decisão, parece-me essencial, quando se inicia o estudo
de ciências como a Física e a Química, salientar o importante que é a
colaboração científica e como é que essa colaboração é essencial para o
conhecimento que temos dos diferentes fenómenos. Refletir sobre “o valor do
conhecimento e o seu impacto no mundo” é um aspeto importante da docência e da
responsabilidade que temos para com os nossos jovens e a sociedade que estamos
a ajudar a formar.
A Química e o conhecimento por ela produzido tem sido
exemplo de promoção de desenvolvimento e bem-estar. Da saúde à agricultura,
passando pelo património e energia, o papel desempenhado pela química ao longo
da história da humanidade é disso exemplo.
Lembramo-nos com certeza de como os arqueólogos identificam
algumas épocas históricas: “Idade do Bronze”, “Idade do Ferro”, mostram como o
conhecimento dos materiais e da tecnologia associada à capacidade de os
transformar alterou o rumo da história. O uso do ferro, por exemplo, promoveu
grandes mudanças nas sociedades primitivas.
O desenvolvimento agrícola operado pela introdução de
novos utensílios e substâncias permitiu o aumento das produções e
consequentemente das populações.
O fabrico de armas mais modernas viabilizou a expansão
territorial de vários povos.
A procura de novos materiais, como o ouro e a prata
impulsionou a expansão marítima e obrigou ao desenvolvimento de métodos e
técnicas de navegação, de extração e de transformação desses e de outros materiais.
Materiais como o nylon, o grafeno ou os compósitos são também eles exemplo do
vasto impacto que a Química e a Tecnologia Química representam na sociedade
moderna.
Na mesma linha de pensamento destaco o importantíssimo
trabalho do casal Curie e do impacto que
teve em áreas tão diferentes como a Energia e a Medicina.
Mas falar em progresso tem ao não custos?
Conseguiremos ter progresso e desenvolvimento científico/tecnológico sem qualquer
impacto?
As exigências de conforto e de bem-estar físico da
sociedade atual, obriga a respostas rápidas. Exemplo disso é o importante contributo
que a Química tem fornecido em áreas indispensáveis como a capacidade de
produzir, aproveitar e armazenar energia elétrica ou ainda, em áreas como as
das tecnologia de comunicação/informação (a construção de um smartphone é disso exemplo). Já para não
falar do impacto inegável que tem tido na indústria alimentar e farmacêutica.
O problema não está no conhecimento produzido pela Química,
mas do uso que dele fazemos. A pressão exercida sobre a indústria Química
conduziu a “acidentes” com forte impacto na humanidade e no planeta.
A carga negativa associada à Química foi ilustrada em
vários dos links partilhados. Mais do que elencar um conjunto de desvantagens
será importante valorizar e destacar o papel da Química moderna. A responsabilidade
e o esforço que deverá fazer e tem feito, na procura de soluções que respeitem
o ambiente, reconheçam a finitude dos recursos materiais e energéticos e
contribuam para o tão desejado Desenvolvimento Sustentável.
Exigir um uso responsável do conhecimento é um desafio
que teremos de vencer. As ações propostas pela Química Verde, com o intuito de
alcançar os 12 objetivos defendidos refletem esse repto.
Dotar os nossos jovens de pensamento crítico,
responsável e comprometido é um desafio que os docentes têm de abraçar. Penso
que os 17 objetivos definidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
vão nesse sentido.
Uma questão impõe-se: O que estaremos dispostos ceder
para atingirmos esses objetivos?
Nazaré Caldeira
Licenciada em Física e Química (ramo ensino) pela
Universidade de Évora.
Professora do Quadro de Agrupamento de Escolas Gabriel
Pereira
AF@QV
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