A Química vista por ... Joaquim Ramalho


Nenhuma forma de conhecimento ou área do saber em geral tem desvantagens. A desvantagem está na utilização desse conhecimento pelo imperfeito homo-sapiens. Podemos referir aspectos negativos ou desvantagens da Química como ferramenta, quando mal utilizada pelos seus utilizadores, que geralmente a troco de alguns benefícios nada éticos e moralmente condenáveis a utilizam descurando inconscientemente ou intencionalmente os efeitos secundários ou colaterais, quase sempre evitáveis, mas desconsiderados porquanto o objectivo final para que foram formatados, é essencialmente “o lucro”. 

Há uma grande questão que por vezes lanço nas mentes dos meus alunos, quando já foram batidas todas as tradicionais, “Onde está presente?”, “É boa ou má?”, “Seria possível viver sem ela?” e que é, “Quando surgiu a Química? As respostas não se fazem esperar. Surgem de rajada todos os nomes ilustres de que se ouviu falar (essencialmente na escola), “Lavoisier”, “Gregos”, “Egipcios”, “Einstein??”, todas as invenções ou importantes acontecimentos associados à nossa existência e história e pré-história. Muitas das vezes ficam muito satisfeitos com a pré-história e a descoberta e/ou domínio do fogo. 

NÃO! Quando? Os olhos esbugalham-se de surpresa e lê-se claramente naqueles olhares a desorientação, a confusão e o choque. É desse confronto de ideias e certezas que se transformam em verdades e de novo numa improvável, quase impossível, inverdade, que surge a curiosidade e o espirito crítico, inovador, que os fará olhar para além do óbvio. Esperam ansiosamente a resposta. Lá vai. “Com o Big-Bang meus caros!”.
Sim! Com o surgimento do átomo primordial e de todos os outros de seguida (esqueçam o tempo, pois não é de seguida, já a seguir! Fica para uma próxima esta questão!), das moléculas e outras estruturas simples ás mais complexas. Surgiu e evoluiu ao longo da expansão do Universo até à atualidade. Com o surgimento da vida simples e sua lenta evolução até nós mesmos, sistema químico complexo consciente de si e do que o rodeia.

Mas então, sempre esteve presente? Sim, claro. A química sempre fez parte deste Universo, de todas as coisas ou seres conscientes de si ou não. Afinal não é ela a Ciência das transformações da matéria. Ciência e Química são conceitos nossos, nós criámos para entendermos o que nos rodeia. Contudo a matéria, as suas interacções e transformações sempre estiveram presentes, desde o “pai” de toda a matéria, o ou os átomos primordiais.

As vantagens do conhecimento que a Química e o método científico nos proporcionaram enquanto civilização na nossa existência nos últimos duzentos anos e principalmente neste último século, são inegáveis. A explosão demográfica e do tempo médio de vida são os melhores indicadores. Estão mais que referenciados e permitiram-nos voar e sonhar com a expansão enquanto espécie para lá das fronteiras do nosso tão maltratado “por nós” globo azul.

As desvantagens estão também mais que referenciadas, mas teremos de falar não da Química, mas de atitudes e comportamentos não de um mas de todos colectivamente, enquanto responsáveis pelo livre arbítrio dos nossos destinos. Falar de substâncias químicas perigosas é falar do que sempre existiu e que naturalmente evitamos por uma questão de sobrevivência, mas muitas delas permitem-nos exactamente viver e por vezes sobreviver. Compreendemos os meandros das transformações da matéria e aprendemos a manipulá-la em proveito próprio. Culpar a Química por todos os nossos males é atribuir a nós próprios essa culpa, essa incapacidade de fazer melhor. Temos obrigação de fazer melhor na utilização das ferramentas que nós próprios desenvolvemos. Temos obrigação de zelar por aquilo que nos deu forma e consciência, para que continue a dar forma e consciência a outros. Temos obrigação de cuidar do mundo e da matéria, do ambiente que nos rodeia. As desvantagens estão associadas não à Química mas a um seu sub-produto natural e consciente de si. Nós. Os problemas conhecidos, numa sociedade que atingiu um patamar de desenvolvimento científico e tecnológico de que não há registo noutras, devem e podem ser resolvidos. Usando correctamente as ferramentas e melhorando comportamentos e atitudes. Aí a Educação não pode vacilar e restringir-se a salas de aula mas estender-se a toda a sociedade, numa tomada de consciência global da importância da alteração das atitudes e comportamentos de cada um de nós.

Joaquim Ramalho
Professor de Quadro do Agrupamento de Escolas Gabriel Pereira de Évora.
Quadro no Grupo 510 (Física e Química)
AF@QV

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