Nenhuma forma de conhecimento ou área do saber em geral tem
desvantagens. A desvantagem está na utilização desse conhecimento pelo imperfeito
homo-sapiens. Podemos referir aspectos negativos ou desvantagens da Química como
ferramenta, quando mal utilizada pelos seus utilizadores, que geralmente a troco
de alguns benefícios nada éticos e moralmente condenáveis a utilizam descurando
inconscientemente ou intencionalmente os efeitos secundários ou colaterais, quase
sempre evitáveis, mas desconsiderados porquanto o objectivo final para que
foram formatados, é essencialmente “o lucro”.
Há uma grande questão que por vezes lanço nas mentes dos meus
alunos, quando já foram batidas todas as tradicionais, “Onde está presente?”, “É
boa ou má?”, “Seria possível viver sem ela?” e que é, “Quando surgiu a Química?
As respostas não se fazem esperar. Surgem de rajada todos os nomes ilustres de
que se ouviu falar (essencialmente na escola), “Lavoisier”, “Gregos”,
“Egipcios”, “Einstein??”, todas as invenções ou importantes acontecimentos
associados à nossa existência e história e pré-história. Muitas das vezes ficam
muito satisfeitos com a pré-história e a descoberta e/ou domínio do fogo.
NÃO! Quando? Os olhos esbugalham-se de surpresa e lê-se
claramente naqueles olhares a desorientação, a confusão e o choque. É desse
confronto de ideias e certezas que se transformam em verdades e de novo numa
improvável, quase impossível, inverdade, que surge a curiosidade e o espirito
crítico, inovador, que os fará olhar para além do óbvio. Esperam ansiosamente a
resposta. Lá vai. “Com o Big-Bang meus caros!”.
Sim! Com o surgimento do átomo primordial e de todos os
outros de seguida (esqueçam o tempo, pois
não é de seguida, já a seguir! Fica para uma próxima esta questão!), das
moléculas e outras estruturas simples ás mais complexas. Surgiu e evoluiu ao
longo da expansão do Universo até à atualidade. Com o surgimento da vida
simples e sua lenta evolução até nós mesmos, sistema químico complexo consciente
de si e do que o rodeia.
Mas então, sempre esteve presente? Sim, claro. A química
sempre fez parte deste Universo, de todas as coisas ou seres conscientes de si
ou não. Afinal não é ela a Ciência das transformações da matéria. Ciência e
Química são conceitos nossos, nós criámos para entendermos o que nos rodeia.
Contudo a matéria, as suas interacções e transformações sempre estiveram
presentes, desde o “pai” de toda a matéria, o ou os átomos primordiais.
As vantagens do conhecimento que a Química e o método científico
nos proporcionaram enquanto civilização na nossa existência nos últimos
duzentos anos e principalmente neste último século, são inegáveis. A explosão
demográfica e do tempo médio de vida são os melhores indicadores. Estão mais
que referenciados e permitiram-nos voar e sonhar com a expansão enquanto
espécie para lá das fronteiras do nosso tão maltratado “por nós” globo azul.
As desvantagens estão também mais que referenciadas, mas
teremos de falar não da Química, mas de atitudes e comportamentos não de um mas
de todos colectivamente, enquanto responsáveis pelo livre arbítrio dos nossos
destinos. Falar de substâncias químicas perigosas é falar do que sempre existiu
e que naturalmente evitamos por uma questão de sobrevivência, mas muitas delas
permitem-nos exactamente viver e por vezes sobreviver. Compreendemos os meandros
das transformações da matéria e aprendemos a manipulá-la em proveito próprio.
Culpar a Química por todos os nossos males é atribuir a nós próprios essa
culpa, essa incapacidade de fazer melhor. Temos obrigação de fazer melhor na
utilização das ferramentas que nós próprios desenvolvemos. Temos obrigação de
zelar por aquilo que nos deu forma e consciência, para que continue a dar forma
e consciência a outros. Temos obrigação de cuidar do mundo e da matéria, do
ambiente que nos rodeia. As desvantagens estão associadas não à Química mas a
um seu sub-produto natural e consciente de si. Nós. Os problemas conhecidos,
numa sociedade que atingiu um patamar de desenvolvimento científico e
tecnológico de que não há registo noutras, devem e podem ser resolvidos. Usando
correctamente as ferramentas e melhorando comportamentos e atitudes. Aí a
Educação não pode vacilar e restringir-se a salas de aula mas estender-se a
toda a sociedade, numa tomada de consciência global da importância da alteração
das atitudes e comportamentos de cada um de nós.
Joaquim Ramalho
Quadro no Grupo 510 (Física e Química)
AF@QV
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