A Química vista por ... Henrique Chaveiro

 A minha relação com a Química começa no ensino secundário onde tive a sorte de ser aluno de uma excelente professora da disciplina de Física e Química. Mas a minha paixão pelo mundo da Química começou depois de ter tido o privilégio de trabalhar no Departamento de Química da Universidade de Évora com o Professor Ferreira de Miranda, químico muito exigente e extremamente meticuloso, professor muito dedicado e de elevada competência científica. Foram anos inesquecíveis aqueles em que simultaneamente fui o seu aprendiz de química laboratorial e estudante do Curso de Ensino em Física e Química. Este período marcou definitivamente a minha consciência sobre a importância da Química enquanto ciência fundamental geradora de conhecimento e criadora de condições indispensáveis na melhoria da qualidade de vida.

Iniciei a minha reflexão sobre o tema: “A importância da Química, suas vantagens e desvantagens”, focando inicialmente dois aspetos que me são muito gratos. O ensino em geral mas em particular o das Ciências, nomeadamente a Química e a investigação científica.

O ensino das Ciências é estruturante, a par com outras áreas do conhecimento, para o desenvolvimento intelectual e futuro desenvolvimento tecnológico dos nossos alunos. Nas minhas aulas tento introduzir algumas estratégias que facilitem o estudo da Química e que sejam também motivadoras, tendo o propósito de reforçar o gosto por esta ciência. No entanto, ao terminar a aula por vezes sinto-me frustrado e com a consciência de que o não consegui os meus objetivos. Os motivos são diversos, programas curriculares longos e pouco flexíveis, elevado número de alunos por turma, crescente carência de materiais didáticos, nomeadamente equipamento laboratorial e reagentes, elevado foco nos resultados escolares do aluno e menos no real conhecimento adquirido, entre outras situações relevantes, enfim, prossigamos…

Parece-me evidente a importância e a necessidade de criar mais ensino e melhor ensino. Podemos enquadrar a melhoria da qualidade do ensino como uma prioridade, uma vez que contribui de forma decisiva para ajudar a superar as dificuldades dos tempos atuais, e promover o desenvolvimento e o bem-estar da vida em sociedade.

“A Química é uma das ciências fundamentais do mundo de hoje, ao proporcionar um conhecimento indispensável para satisfazer as necessidades da sociedade na saúde, no ambiente, na agricultura, na alimentação, nos novos materiais, etc.. Mas é muito mais do que isto. É uma forma de cultura e um meio de satisfazer os anseios intelectuais do homem, dando respostas a muitas das suas interrogações (Formosinho, 1987).”

Citei o Professor Formosinho, pois penso que conseguiu ilustrar numa frase concisa a importância da Química na Sociedade atual.

A importância da Química na melhoria das condições de saúde das populações remonta ao final do século XVII Início do século VIII. Inicialmente a Química encontrava-se muito dependente ou interligada aos objetivos da Medicina e da Farmacologia, foi ainda necessário esperar mais algumas décadas até que se assumisse como ciência independente, muito por consequência da crescente ligação aos interesses do desenvolvimento da indústria mineira e às crescentes solicitações para a melhoria da tecnologia metalúrgica. Após vários avanços e alguns recuos, a Química conseguiu estabelecer as suas bases científicas e desenvolver um caráter de ciência experimental que a vieram reforçar, e progressivamente foi-se afirmando como ciência fundamental.

No editorial da revista Química Nova, a propósito das comemorações do Ano Internacional da Química, em 2011, César Zucco – Presidente da Sociedade Brasileira de Química – escreve: “Um mundo sem a ciência Química seria um mundo sem materiais sintéticos, e isso significa sem telefones, sem computadores e sem cinema. Seria também um mundo sem aspirina ou detergentes, shampoo ou pasta de dente, sem cosméticos, contracetivos, ou papel – e, assim, sem jornal ou livros, colas ou tintas. Enfim, sem o desenvolvimento proporcionado pela ciência Química, a vida, hoje, seria chata, curta e dorida!”

De facto seria impensável imaginar o mundo dos nossos dias alicerçado na utilização estrita de substâncias extraídas unicamente de recursos naturais. Foi graças ao enorme desenvolvimento da Indústria Química que foi possível obter a vastíssima e muito diversificada quantidade de substâncias sintéticas. Como consequência, podemos hoje desfrutar de inúmeros objetos imprescindíveis no quotidiano das nossas vidas. A tecnologia como a conhecemos na atualidade depende da enorme contribuição que a Química potencia com a crescente criação de novos materiais, frequentemente criados à medida, para suprir as necessidades identificadas por outras áreas científicas e tecnológicas. Bastará observar o desenvolvimento do ramo automóvel ou da aeronáutica para elencar a enorme contribuição prestada pela Indústria Química, quer na criação de materiais mais robustos e simultaneamente mais leves, a preços sempre mais competitivos, quer no desenvolvimento de novas soluções energéticas.

A Medicina é outra área que muito tem beneficiado com o avanço da Química e sobretudo com o seu desenvolvimento tecnológico. Tem melhorado a sua capacidade na identificação da doença e posterior cura, sempre que a Química consegue inovar na síntese e no melhoramento da eficácia dos fármacos e progredir na obtenção de novos materiais para obtenção de melhores meios de diagnóstico.

Infelizmente, a Química não é apenas promotora de vantagens. Podemos facilmente identificar um conjunto de desvantagens relacionadas diretamente ou indiretamente pela enorme e muito diversificada solicitação a que está sujeita. A continuada e crescente necessidade de produzir a uma escala industrial, faz crescer um conjunto de ações criadoras de poluição ambiental. O consumo de recursos naturais com a consequente delapidação do património natural não renovável é outro dos fatores que se constituem como desvantagem da Química Industrial.

É neste quadro de maior eficiência energética e de redução de consumos de matérias prima essenciais e não renováveis bem como da premente necessidade de redução da poluição ambiental, que surge a denominada Química Verde. Espero que o seu desenvolvimento se imponha como fator credível no incremento das soluções vantajosas e contribua para minimizar os aspetos mais nefastos que são causados por práticas pouco racionais.

Professor de Física e Química no Agrupamento de Escolas Severim de Faria | Évora

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