QUÍMICA: VANTAGENS E DESVANTAGENS
O meu fascínio pela química começou muito antes de eu saber o significado da palavra. Ainda miúda, quando a minha mãe me dava um comprimido e a dor de cabeça passava, eu olhava para o comprimido e imaginava o que estaria lá dentro… que magia era aquela. Continuou mais tarde quando percebi que podia transformar substâncias noutras completamente diferentes, ou quando me apercebi das inúmeras reacções químicas que ocorrem no interior do nosso corpo e nos mantêm vivos. O meu fascínio pela química está inevitavelmente ligado às vantagens da mesma.
Ainda hoje fico fascinada com os avanços da ciência e em particular da química em prol do bem-estar das sociedades. Historicamente, todos sabemos que muitos problemas relacionados com a fome e com as doenças têm sido resolvidos pela ciência, ao longo dos tempos, com grande contribuição da química, infelizmente não equitativamente pelo planeta, mas ninguém duvida que estamos hoje muito melhor que no início do século XX.
Mas claro… existem os pessimistas, onde eu por vezes também me incluo quando penso nas consequências de alguns processos químicos que levam à poluição ambiental, como por exemplo a utilização dos combustíveis fósseis ou na produção e consequente utilização exagerada de plásticos ou na utilização de aditivos alimentares e pesticidas. Perante todas as consequências nefastas a sociedade criou uma aversão a “químicos” dando-lhe uma conotação de substâncias malditas. Por outro lado, criou uma forte dicotomia entre natural e sintético, tornando a ideia que tudo o que é natural é bom… basta pensar no tabaco ou na cicuta, ambas plantas naturais.
Acredito que está na química a resolução da maioria dos problemas que ela própria criou, basta pensar na criação dos plásticos biodegradáveis, ou na quantidade de investigadores que se dedicam à Química Verde. Mas por si só não vai chegar, precisamos todos de contribuir de uma forma mais ativa e empenhada para a resolução do problema, quando digo todos refiro-me não só a individualmente, mas a instituições e governos de todo o mundo. Todos temos de fazer parte da resolução do problema e empenharmo-nos na redução da geração de resíduos e da emissão de poluentes, reduzir os consumos de energia e de materiais, preferindo recursos renováveis e reduzir riscos na produção e na perigosidade dos produtos, contribuindo assim para que se consiga atingir os 17 objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Enquanto professora de jovens em formação cabe-me o papel de transmitir conhecimentos mas também contribuir para que os jovens sejam mais críticos, mais interventivos, mais criativos, ou seja dotá-los com as ferramentas necessárias para se tornarem cidadãos mais responsáveis.
Gosto de pensar que estou a contribuir para a formação de jovens mais esclarecidos, quimicamente falando e que as novas gerações estão assim mais disponíveis e aptas para contribuir para a Sustentabilidade do Planeta.
Muitas vezes penso que os meus alunos vão ser os futuros investigadores, políticos, economistas, etc. e que na base das suas carreiras profissionais vai estar não só o conhecimento, mas também uma escala de valores que vai estar presente na tomada de decisões.
Com já alguém disse, o conhecimento da química por si só não é um malefício, importante é o uso que fazemos desse conhecimento. Vamos produzir medicamentos para distribuir por todos os países ou produzir armas químicas? Cabe aos decisores políticos e aos poderes instalados dos vários países encontrar o caminho certo e não ceder a poderes económicos. É urgente encontrar um equilíbrio sustentável entre o ambiente, a sociedade e a economia.
Estará a nossa sociedade e cada um de nós dispostos a mudar mentalidades e hábitos, contribuindo assim de forma ativa para a Sustentabilidade do Planeta?
Felicidade Ferrão
Licenciada em Ensino de Física e Química pela Universidade de Évora
Professora do Quadro do Agrupamento de Escolas Gabriel Pereira
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