A Química vista por Ana Luísa Ferreira (aluno da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

Muitos (pouco informados) associamos a química a uma ciência, mas quando pensamos em químicos imediatamente vem à mente “hazard”, os resíduos perigosos que são produzidos essencialmente no sector industrial, na saúde e na agricultura, tais como pesticidas, antibióticos, promotores de crescimento, aditivos alimentares tóxicos, lubrificantes, tintas, etc.

Na realidade a Química está praticamente em todo o lado no nosso dia a dia, não se limita a substâncias sintéticas e é responsável em grande parte pela nossa qualidade e aumento da esperança de vida.

Se há um derrame de alguma substância industrial, por exemplo, que contamina e afeta os seres vivos, logo há o destaque internacional de um “desastre químico”. Cada vez se dá menos destaque a uma nova cura de doença (lá se disponibilizam um ou dois minutos do telejornal para um investigador jovem que ganhou algum prémio internacional) ou um novo método de combate à poluição.

Rather like Molière’s Monsieur Jourdain, who ‘spoke in prose’ without knowing it, we all practice chemistry, usually without being aware of it. (The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.10)

Quando estamos a cozinhar, por exemplo, estamos frequentemente a utilizar processos químicos. Os veículos, cada vez mais leves e seguros em situação de colisão, utilizam ligas desenvolvidas pela investigação química. E como poderíamos hoje em dia subir montanhas e fazer grandes caminhadas sem aquelas solas desenvolvidas para ser leves, flexíveis e duradouras? Como conseguiríamos viver sem o telemóvel, que integra tantos conhecimentos químicos?

Há de facto uma grande dose de iliteracia (ou negatividade) no que diz respeito à Química, ciência fundamental para o desenvolvimento (sustentável) do planeta, a ideia de que o que é natural é bom e o que é sintético (a que chamam “os químicos”) é mau. De facto, nem a química diz respeito apenas ao sintético nem tudo o que é sintético é mau pois “todas as substâncias, naturais ou de síntese, podem ser prejudiciais à saúde! Tudo depende da dose.” (Corrêa C., A Química nas Nossas Vidas, 2011). Substância química é um pleonasmo.

We still continue to turn to nature for the raw materials behind many medically and economically successful new treatments. Nature has provided over half of the chemical substances that have been approved by regulatory bodies across the world over the past 40 years  (Bolzani V., The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.24)

Há, no entanto, alguma razão para a associação dos “químicos” a substâncias, ainda que úteis, perigosas. Sendo uma das indústrias mais importantes e valiosas do mundo, durante décadas, não mostrou interesse na sustentabilidade ou proteção do ambiente (como toda a indústria e sociedade em geral). Foram necessários alguns grandes desastres industriais e uma crise ambiental para a mudança de mentalidade e a conversão da química suja (dirty chemistry) em química verde.

In the 1950s, nylon, plastic and Persil washing powder stood for progress. By the 1970s and 80s the image of the chemical industry was as dirty as its origins. (Bolzani V., The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.36)

A ciência que antes concorria no desenvolvimento desenfreado, sem olhar a meios ou consequências, apresenta hoje soluções e desenvolvimentos necessários à recuperação e do planeta, à melhoria das condições ambientais, no encontro de alternativas para os problemas climáticos. Encontram-se soluções químicas para a poluição química, projetos de controlo emissões e captura de dióxido de carbono e purificação do ar, limpeza dos oceanos. Lembro-me de quando os CFCs foram proibidos, no final da década de 80, porque destruíam a camada de Ozono: a química encontrou alternativas e a transição foi tão suave que praticamente nem demos por ela.

A química não é mais do que uma interação com o meio, cada vez mais profunda e rigorosa, que existe deste que o homem interage com o planeta. O aperfeiçoamento e o conhecimento provêm da experiência e alguns erros e catástrofes são inerentes e parte dessa aprendizagem e desenvolvimento. É fundamental ter em consideração de que a natureza é um ecossistema complexo, do qual fazemos parte, e a intervenção no mesmo tem consequências. É necessário ser cuidadoso ao intervir em qualquer ecossistema. E ter uma alimentação variada, que integre muitas frutas e vegetais, de fontes seguras, sujeitas a controlo dos aditivos autorizados (e respetiva dose admitida).

 

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