Falar sobre química não é fácil para quem vem
de comunicação. Com um percurso académico todo ligado às letras e o contacto
com disciplinas mais científicas a acabar por volta dos treze anos de idade, a
minha visão sobre a química é tendencialmente falaciosa, fatalista,
pré-concebida e, sobretudo, preconceituosa.
Cresci a acreditar que a química, e os avanços
e progresso que nos tem proporcionado, era um dos principais fatores para o
estado caótico em que nos encontramos. Poluição, perda de ecossistemas, extinção
em massa de espécies, uma vida sem sentido em permanente ligação, stress,
ansiedade e uma busca incessante por ter sempre mais, melhor, o último e mais
moderno modelo de um qualquer bem tecnológico eram para mim «males» da
sociedade em que vivemos possibilitados pelos avanços da química e de outras
disciplinas técnicas, como a engenharia. No entanto, e apesar de uma parte de
mim ainda depositar uma certa quota parte de culpa nesta disciplina, percebo
também agora as próprias limitações do meu raciocínio e conhecimento.
Falar de química, percebo agora, é o mesmo que
falar de vida: dos processos que nos ligam e daquilo que nos permitem sermos
nós próprios. Todos os processos naturais são químicos e todos os processos
químicos são, de certa forma, naturais, já que foram criados ou descobertos por
seres pensantes que fazem parte da Natureza. Perceber e aceitar este facto
incontestável daquilo que é a química não me deixa, no entanto, mais serena em
relação aos propósitos para os quais é utilizada atualmente. Isto, claro, não
se deve à disciplina em si, mas ao que a indústria tenta fazer desta
disciplina. A problemática dos códigos de ética, tema subjacente em alguns dos
textos que tive oportunidade de explorar, é, pois, um dos pontos fundamentais
para a regulamentação daquilo que, apesar de se poder fazer, não deve ser
feito. Saberemos dizer basta? Saberemos reconhecer a linha que não devemos
transpor quando a encontrarmos? Com indústrias cada vez mais competitivas, em
que o lucro e as vendas continuam a ser prioridades máximas, apesar de todos os
avisos que o planeta nos tem dado em contrário, não acredito que saibamos
quando parar. Afirmar que a química encerra em si mesma as soluções para os
problemas que criou parece-me uma visão extremamente redutora e tendenciosa.
Claro que precisamos de encontrar soluções, mas não através da criação de mais
problemas. Apostar o nosso futuro com base em pressupostos de que iremos
conseguir amanhã solucionar o que estamos a fazer de errado hoje não me parece
uma atitude que devemos aplaudir.
Ainda assim, e com toda esta visão negativa
sobre a química (que, na verdade, não é sobre a química em si, mas antes daquilo
que fizemos dela), é com muita expectativa que vejo subáreas de investigação da
química, como por exemplo, o biomimetismo, a quererem aproximar-se o mais
possível da replicação das soluções que a própria natureza já nos fornece. A
química tem potencialidades estrondosas e os avanços médicos e de
desenvolvimento que já permitiu são confirmação disso mesmo. O grande problema,
do meu ponto de vista, é estar a ser utilizada para os fins errados, para o
progresso errado. Afinal, precisamos mesmo de relógios inteligentes ou de
aumentar ainda mais o nosso frenético ritmo de vida? Tenho as minhas dúvidas,
mas quem sou eu, no meio desta multidão que vibra com os últimos gadgets que
não trazem qualquer valor à nossa vida, para achar alguma coisa?
Não precisamos de uma mudança na química.
Precisamos de uma mudança na sociedade. Nas nossas prioridades, nos nossos
objetivos. A química acompanhará a tendência.
Leila Teixeira
Licenciada em Comunicação Empresarial
Estudante da Pós-Graduação em Ambiente,
Sustentabilidade e Educação, pela Universidade de Évora
Escritora, editora e co-fundadora da revista
online sobre ambiente e sustentabilidade Raízes Mag
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