A Química vista por... Ana Brito*

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Assistimos a um crescente aumento do interesse pela preservação do meio ambiente e preocupamo-nos com a escolha de comportamentos adequados. Sabemos que não é possível continuar a retirar da natureza, e a agredi-la simultaneamente.
A Química tem sido entendida como mais uma fonte de poluição ambiental. Mas na verdade a Química é uma presença constante nas nossas vidas, e para além de ser o “remédio” para inúmeras questões de saúde e a solução para muitos problemas - sem ela não existiria vida.
A maioria das pessoas associa a refinação do petróleo e a química pesada de produção de polímeros, tintas, resinas, fertilizantes e outros com um forte impacto ambiental, gerador de quantidades enormes de resíduos, muitos deles tóxicos. Mas importa salientar que na indústria farmacêutica por cada quilo de produto farmacêutico, são produzidas 25 a 100 kg (ou mais) de resíduos. Na indústria química pesada, a geração de resíduos é consideravelmente menor: um a cinco quilos de resíduos por quilo de composto produzido. Verifica-se então um elevado impacto ambiental.
Para menorizar estes “atentados”, surge um novo conceito: conceito de química verde, que assenta na procura de processos sintéticos benignos, que reduzam o impacto ambiental, dentro do contexto de manutenção do padrão de exigência da sociedade moderna. Isto significa ter rápida e facilmente, medicamentos disponíveis no mercado a um custo menor, mas com elevados padrões de qualidade. A adoção dos doze princípios da química verde pode proporcionar maior eficiência, como redução do impacto ambiental durante a síntese química farmacêutica. No entanto, embora a maioria dos princípios possa ter uma transposição direta para a química farmacêutica, devido à sua especificidade, alguns não são transponíveis. Os princípios do desenvolvimento de produtos seguros e do desenvolvimento no sentido da degradação não são aplicáveis. Os fármacos têm uma atividade farmacológica precisa, que muitas vezes passa por serem moléculas altamente tóxicas, como é o caso dos anti tumorais citotóxicos.

É claro que, sempre que possível, devem ser incorporados reagentes provenientes de fontes renováveis, em detrimento dos derivados da refinação do petróleo. Embora alguns medicamentos sejam de origem natural e possam ser isolados a partir de plantas, esta alternativa está quase sempre colocada de parte, devido aos elevados custos de extração e purificação associados à obtenção de reduzidas quantidades das moléculas desejadas.
Importa referir os 12 princípios da Química verde:

-Prevenção de resíduos. Evitar a produção de resíduos e desperdícios é preferível ao seu tratamento após a formação.

-Economia atómica. Os métodos sintéticos devem ser desenvolvidos no sentido de maximizar a incorporação de todos os materiais de partida no produto final.

-Síntese de produtos menos perigosos. Sempre que possível, a síntese de um produto deve utilizar e originar substâncias de pouca ou nenhuma toxicidade para a saúde humana e o ambiente.

-Desenvolvimento de produtos seguros. Os produtos devem ser desenvolvidos no sentido de poderem realizar a função desejada e, simultaneamente, não serem tóxicos.

-O uso de substâncias auxiliares, estas substâncias devem ser inócuas e utilizadas na menor quantidade necessária.

-Eficiência energética. As necessidades energéticas devem ser consideradas ao nível do seu impacto económico e ambiental, e devem ser minimizadas.

-Sempre que seja técnica e economicamente viável, a utilização de matérias-primas renováveis deve ser escolhida em detrimento de fontes não renováveis.

-Evitar a formação de derivados. Se possível, evitada, porque estas etapas requerem reagentes adicionais e tendem a aumentar a geração de resíduos.

-Catálise. Os reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são melhores do que os reagentes estequiométricos, uma vez que são utilizados em quantidades relativamente reduzidas. Sempre que possível, deve promover-se a reciclagem e reutilização dos catalisadores.

-Desenvolvimento no sentido da degradação. Os produtos, após exercerem a sua função, não devem persistir no ambiente.

-Prevenção da poluição. É necessário desenvolver metodologias analíticas que viabilizem a monitorização e o controlo dos processos, em tempo real, antes da formação de substâncias nocivas.

-Química intrinsecamente segura. As substâncias, bem como o modo como são utilizadas no processo, devem ser escolhidas a fim de minimizar potenciais acidentes, incluindo derrames, explosões e incêndios.

A química verde requer uma multiplicidade de perspetivas, incorporando as componentes científica, tecnológica e económica. Necessita de investigadores com competências necessárias para uma abordagem multidisciplinar da química para que as suas atividades tenham impacto. Ao longo dos últimos anos, verificou-se um crescimento da produtividade da investigação, cresceu também o número de estudantes de licenciatura e mestrado em áreas relacionadas com a química sustentável.

Referências Bibliográficas:


Licenciada em Filosofia e Estudante da pós-graduação em Ambiente, Sustentabilidade e Educação | e-learning | Universidade de Évora


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