A Química vista por Diana Neves (aluna da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

A última vez que estudei ciências foi quando tinha 15 anos. Nove anos mais tarde, tudo o que toca a física, a química, a biologia ou a astronomia é fascinante, mas incrivelmente assustador para mim. Não entendo porquê, já que as ciências sociais e as ciências naturais têm, à sua maneira, como objeto de estudo mais assustador o ser humano. 

considero assustador não no modo como vemos filmes de terror, mas na forma como não compreendo os processos e não vejo as substâncias mais pequenas e as suas relações diante dos meus olhos, da mesma maneira como vejo as leio as palavras num livro, ou como me é palpável a fala. 

 

De facto, a química (pelos vistos, e para salvação da minha ignorância) está tão presente no nosso quotidiano como está o café que bebemos de manhã, os lençóis onde nos deitamos. Porém, e assim fiquei a pensar depois de ver o vídeo “A Day Without Quemistry”, há qualquer coisa de belo entre a certeza da química, semelhante à certeza da água que escorre quando abrimos uma torneira, e o privilégio que é a existência da química, tal como o é essa torneira a jorrar água. Damo-la por garantida, parece que está sempre lá, sem sabermos bem que lá está. Ao contrário da água, por ser considerada um bem básico à sobrevivência humana, mediatizada, vangloriada e preservada, a química permanece subjugada ao silêncio e à ignorância comum. 

 

Tenho a televisão ligada, ao mesmo tempo que escrevo este texto, ignorando o facto de lá existir “química”; limpei os móveis da casa, ignorando o facto de esses produtos serem feitos à base de “química”; marquei uma consulta para vacinar a minha cadela, ignorando o facto que naquele frasquinho está “química”, estou a carregar o meu computador, ignorando a “química” que atravessa todos estes fios e aparelhos; fiz a reciclagem de plásticos, ignorando a essência “química” desses materiais. 

 

Hoje, a química, ou digamos a artificialidade das coisas, continua a ter uma ideia negativa no senso comum. E, na verdade, são poucas as coisas, hoje, que não tenham algum prejuízo para a nossa saúde, seja os plásticos na nossa comida e no leite materno, ou a falta de regularização dos químicos usados na produção de roupas de determinadas marcas. Por outro lado, é imposta, na generalidade erradamente, uma característica às substâncias naturais que lhes confere, de algum modo, uma aura imaculada… Mas:

 

Muitos alimentos contêm substâncias naturais que podem causar doenças, como por exemplo o Isocianato de alilo (alho, mostarda) que pode originar tumores, o benzopireno (fumados, churrascos) causador de cancro do estômago, os cianetos (amêndoas amargas, mandioca) que são tóxicos, as hidrazinas (cogumelos) que são cancerígenas, a saxtoxina (marisco) e a tetrodotoxina (peixe estragado) que causam paralisia e morte, certos taninos (café, cacau) causadores de cancro do esófago e da boca e muitos outros. (Corrêa, 2011)

 

São poucos os componentes da sociedade moderna que não tenham resultado da “descoberta” (no século XVIII, pelo “pai” da Química, Antoine Lavoisier), estudo, implementação e industrialização de processos químicos. 

 

Mas a química não está ligada necessariamente e exclusivamente ao aumento de doenças, ao aumento de resíduos no ambiente, aos aditivos alimentares e aos pesticidas.

A imagem que temos da química deve ser alterada, em primeiro lugar, a partir da educação, e, em segundo lugar, através da correta utilização de termos “químicos” pelos media, como meios de massa, e pelas marcas

 

A química está em quase todos os materiais, processos e alimentos hoje produzidos. Se olhássemos para a química, como olhamos para a memória impressa numa fotografia (que, por sua vez, passou por um processo químico), estaríamos mais atentos ao seu papel no mundo, na sociedade, no espaço natural.

 

Webgrafia:

A química nas nossas vidas. Ciência hoje. 23 de junho de 2011.

 

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