A Química vista por Inês Silva  (aluno da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

Quando penso na palavra Química, e talvez seja suspeita por ser estudante de ciências, associo a uma ciência muito complexa e importante, que está na base de tudo o que nos rodeia, desde o orgânico ao inorgânico. O conjunto dos elementos químicos que consultamos na tão temida tabela periódica, e as transformações que sofrem, garantem não só a nossa sobrevivência, mas também o estilo de vida materialista das sociedades modernas. Ler os recursos disponibilizados, fez-me pensar em como é que a química é abordada no meu dia-a-dia e, de facto, acho que a sua omnipresença acabou por torná-la “banal”, porque apesar de ser uma força motriz no nosso desenvolvimento, a maior parte das referências que fazemos à química e, em particular, aos químicos, são sempre negativas, quer seja nos fármacos, nos alimentos, ou no ambiente.

É impossível não questionar, quando é que será que as pessoas começaram a temer a química e, apesar de não ser uma pergunta de resposta fácil, é largamente associado ao aumento do uso de pesticidas, em particular ao DDT, e surpreendeu-me o facto de já existir um termo para esta fobia. “Chemophobia” reflete o medo ou aversão a produtos químicos, e até à química. É interessante a crescente onda de “chemophobia” num mundo cada vez mais material.

O átomo é a unidade estrutural da matéria, e a síntese de produtos químicos permitiu-nos obter produtos que não existem de forma natural. Assim, os químicos estão presentes nas várias embalagens que usamos, nos detergentes, ajudam a conservar os alimentos e melhoram também a sua produção. Para além disto, aparecem em muitas outras indústrias, como na têxtil, e em particular, na farmacêutica. A química não só permite o acesso a uma grande variedade de medicamentos, como também permite o acesso a cuidados de saúde melhorados, desde a produção de antissépticos e desinfetantes, até aos instrumentos cirúrgicos. Por último, é impossível não falar do papel da química no desenvolvimento da tecnologia, porque sem esta não teríamos carros, nem telemóveis e, certamente, nunca veríamos os avanços e as melhorias que estes produtos têm sofrido nos últimos anos.

Este medo da química acaba por estar muito associado, não só a uma falha na comunicação entre os químicos e a população, mas também à desinformação que existe, uma vez que os argumentos utilizados muitas vezes não são bem fundamentados, como o Professor Carlos Corrêa ilustra muito bem quando fala na “má imagem da química”. Somos claramente mais propícios a temer o que não conseguimos detetar facilmente com os nossos sentidos, e a comunicação e discussão destes temas tem de ter isso em conta. No entanto, não quer isto dizer que não existam efetivamente quaisquer riscos.

A química também tem as suas desvantagens, sendo que algumas substâncias produzidas podem acabar por ser prejudiciais, como por exemplo o DDT e os CFCs, que acabaram por ter grandes impactes ambientais, e a talidomida, que provocou malformações em milhares de crianças. Assim, são fundamentais todas as medidas de controlo e fiscalização, para garantirem que o uso de substâncias químicas é seguro e não abusivo, e para prevenir a sua utilização perversa.

Por último, é importante não ignorar que, apesar das enormes vantagens que a química trouxe para a produção, o avanço do conhecimento científico acabou por nos deixar, não só mais confortáveis com a enorme produção de resíduos, em nome da melhoria das condições de vida da população, mas também sempre à procura de mais, aumentando o ritmo de reposição de bens materiais, devido à crescente facilidade de produção dos mesmos. Isto reflete-se num aumento da poluição, como por exemplo o caso dos plásticos.

Felizmente, o contínuo trabalho em química leva-nos também à Química Verde, que procura alternativas mais sustentáveis, de maneira a minimizar alguns aspetos negativos associados à produção de substâncias químicas.

 

Referências

BytesizeScience. (2011). A Day Without Chemistry [Video]. YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AbfW_CMMe48 

Chalupa, R., & Nesměrák, K. (2022). Chemophobia and passion: why chemists should desire Marcel Proust. Monatshefte für Chemie-Chemical Monthly153(9), 697-705. https://doi.org/10.1007/s00706-022-02945-5

Corrêa, C. (2011). A Química nas nossas vidas. Ciência Hoje. Disponível em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=49746&op=all

Ganesh, K. N., Zhang, D., Miller, S. J., Rossen, K., Chirik, P. J., Kozlowski, M. C., Zimmerman, J.B., Brooks, B.W., Savage, P.E., Allen, D.T. & Voutchkova-Kostal, A. M. (2021). Green chemistry: A framework for a sustainable future. Organometallics40(12), 1801-1805. https://doi.org/10.1021/acs.estlett.1c00434

Mendes, P. (s.d.). Química entre Nós [Notas de apoio à unidade curricular Sustentabilidade: uma abordagem transdisciplinar]. Disponível em https://www.moodle.uevora.pt/2324/pluginfile.php/66594/mod_resource/content/2/Quimica_entre_Nos.pdf

Mulzer, C. (2019). The incredible chemistry powering your smartphone [Video]. TED@DuPont. Disponível em https://www.ted.com/talks/cathy_mulzer_the_incredible_chemistry_powering_your_smartphone/transcript?language=en

UNESCO (2011) – Chemistry and Life. The UNESCO Courier, JANUARY - MARC H. ISSN 2220-2285. Disponível em https://webstorage.cienciaviva.pt/public/pt.cienciaviva.www/divulgacao/chemistry_life_unesco.pdf

 

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