A Química vista por Carla Faria (aluna da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

O que é que nos vem à cabeça quando ouvimos a palavra "química"?

Tubos de ensaio? Laboratório? Átomos? Tabela periódica?

Cada um, representa um elemento da química, mas nenhum capta verdadeiramente o conceito como um todo, pois a química é uma ciência muito complexa.

É inegável que os avanços na química ao longo da história têm desempenhado um papel fundamental no progresso da humanidade, impulsionando descobertas científicas, avanços tecnológicos e o desenvolvimento industrial, que transformou e a nossa sociedade.

As descobertas químicas têm sido essenciais para o desenvolvimento de medicamentos e tratamentos que salvaram inúmeras vidas, como a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928, que marcou o início da era dos antibióticos, revolucionando o tratamento de infeções bacterianas, a síntese de medicamentos modernos para uma variedade de doenças, como a insulina para os diabético, os antirretrovirais para o HIV e os analgésicos para alívio da dor, são exemplos de como a química tem beneficiado a saúde humana. Para além disso, a química também é fundamental para o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico, como a ressonância magnética e os testes laboratoriais, que ajudam no diagnóstico de doenças e proporcionam um tratamento adequado.

Na agricultura e na alimentação, a química desempenhou um papel decisivo na produção de fertilizantes, pesticidas e herbicidas, aumentando significativamente a produtividade agrícola e contribuindo para a segurança alimentar a nível mundial, quando aplicado nas proporções adequadas. Além disso, a ciência dos alimentos, que envolve a química da nutrição e processamento alimentar, tem ajudado a desenvolver alimentos mais seguros, nutritivos e acessíveis para a população.

Os avanços na química têm levado ao desenvolvimento de uma ampla gama de materiais e produtos, desde plásticos e polímeros até metais e cerâmicas avançadas. Materiais esses, essenciais para muitas indústrias, incluindo eletrónicos, construção, automotiva e aeroespacial. Além disso, a química tem sido fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias, como a energia solar, baterias de iões lítio e dispositivos de armazenamento de dados.

Os avanços na química têm possibilitado a exploração e utilização de fontes de energia alternativas, como a energia solar, eólica e nuclear. Além disso, tem desempenhado um papel importante na procura de soluções energéticas sustentáveis. O desenvolvimento de baterias eficientes para veículos elétricos, a produção de painéis solares e a conceção de sistemas de armazenamento de energia são apenas alguns exemplos de como a química está a impulsionar a transição para fontes de energia mais verdes.

Como qualquer outro elemento, a química também enfrenta desafios na sociedade moderna. A gestão adequada dos resíduos químicos e a segurança, são aspetos cruciais a ter em conta. É essencial promover a responsabilidade ambiental e a sustentabilidade na indústria química, para minimizar os impactos negativos no ambiente. Além disso, é necessária uma maior sensibilização para os riscos associados aos produtos químicos e a necessidade de uma regulamentação eficaz para garantir a proteção da saúde humana e do ambiente.

 A Química vista por Diana Neves (aluna da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

A última vez que estudei ciências foi quando tinha 15 anos. Nove anos mais tarde, tudo o que toca a física, a química, a biologia ou a astronomia é fascinante, mas incrivelmente assustador para mim. Não entendo porquê, já que as ciências sociais e as ciências naturais têm, à sua maneira, como objeto de estudo mais assustador o ser humano. 

considero assustador não no modo como vemos filmes de terror, mas na forma como não compreendo os processos e não vejo as substâncias mais pequenas e as suas relações diante dos meus olhos, da mesma maneira como vejo as leio as palavras num livro, ou como me é palpável a fala. 

 

De facto, a química (pelos vistos, e para salvação da minha ignorância) está tão presente no nosso quotidiano como está o café que bebemos de manhã, os lençóis onde nos deitamos. Porém, e assim fiquei a pensar depois de ver o vídeo “A Day Without Quemistry”, há qualquer coisa de belo entre a certeza da química, semelhante à certeza da água que escorre quando abrimos uma torneira, e o privilégio que é a existência da química, tal como o é essa torneira a jorrar água. Damo-la por garantida, parece que está sempre lá, sem sabermos bem que lá está. Ao contrário da água, por ser considerada um bem básico à sobrevivência humana, mediatizada, vangloriada e preservada, a química permanece subjugada ao silêncio e à ignorância comum. 

 

Tenho a televisão ligada, ao mesmo tempo que escrevo este texto, ignorando o facto de lá existir “química”; limpei os móveis da casa, ignorando o facto de esses produtos serem feitos à base de “química”; marquei uma consulta para vacinar a minha cadela, ignorando o facto que naquele frasquinho está “química”, estou a carregar o meu computador, ignorando a “química” que atravessa todos estes fios e aparelhos; fiz a reciclagem de plásticos, ignorando a essência “química” desses materiais. 

 

Hoje, a química, ou digamos a artificialidade das coisas, continua a ter uma ideia negativa no senso comum. E, na verdade, são poucas as coisas, hoje, que não tenham algum prejuízo para a nossa saúde, seja os plásticos na nossa comida e no leite materno, ou a falta de regularização dos químicos usados na produção de roupas de determinadas marcas. Por outro lado, é imposta, na generalidade erradamente, uma característica às substâncias naturais que lhes confere, de algum modo, uma aura imaculada… Mas:

 

Muitos alimentos contêm substâncias naturais que podem causar doenças, como por exemplo o Isocianato de alilo (alho, mostarda) que pode originar tumores, o benzopireno (fumados, churrascos) causador de cancro do estômago, os cianetos (amêndoas amargas, mandioca) que são tóxicos, as hidrazinas (cogumelos) que são cancerígenas, a saxtoxina (marisco) e a tetrodotoxina (peixe estragado) que causam paralisia e morte, certos taninos (café, cacau) causadores de cancro do esófago e da boca e muitos outros. (Corrêa, 2011)

 

São poucos os componentes da sociedade moderna que não tenham resultado da “descoberta” (no século XVIII, pelo “pai” da Química, Antoine Lavoisier), estudo, implementação e industrialização de processos químicos. 

 

Mas a química não está ligada necessariamente e exclusivamente ao aumento de doenças, ao aumento de resíduos no ambiente, aos aditivos alimentares e aos pesticidas.

A imagem que temos da química deve ser alterada, em primeiro lugar, a partir da educação, e, em segundo lugar, através da correta utilização de termos “químicos” pelos media, como meios de massa, e pelas marcas

 

A química está em quase todos os materiais, processos e alimentos hoje produzidos. Se olhássemos para a química, como olhamos para a memória impressa numa fotografia (que, por sua vez, passou por um processo químico), estaríamos mais atentos ao seu papel no mundo, na sociedade, no espaço natural.

 

Webgrafia:

A química nas nossas vidas. Ciência hoje. 23 de junho de 2011.

 

 A química vista por Patricia Trancarruas (aluna da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

Quando se fala de Química lembro-me das aulas no secundário, da tabela periódica, dos eletrões e iões, da sua história e da evolução que trouxe e continua a trazer à humanidade. A Química faz parte de um papel fundamental da nossa existência é um facto, a criação do Universo, dos planetas, da nossa Terra, de tudo o que nos rodeia, da qualidade de vida que temos atualmente...

Todos nos conhecemos o filme “De volta ao Futuro”, de 1985, redigido por Zemeckis e Bob Gale, na altura todos aqueles aparatos faziam os jovens sonhar com a criação de uma máquina que teletransportava pessoas para o passado e para o futuro. Ao fim de 39 anos a ciência e a tecnologia ainda não conseguiu desenvolver esta famosa máquina, mas acreditamos que um dia possa vir a ser construída, - pensamento demasiado futurista. Possivelmente com a ajuda da Química.  A Química é isto mesmo, ela faz parte de tudo, da nossa vida, da nossa evolução, do ar que respiramos, da composição e decomposição das nossas células, no começo da invenção de novas tecnologias. Tudo começa com a Química.

“A Química é uma Ciência fundamental para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta e para o aumento da nossa qualidade de vida, sendo omnipresente em tudo o que nos rodeia.” – definição por Paulo Mendes, Universidade de Évora

Assim sendo, a Química é uma ciência que estuda todas as propriedades e transformações que envolvem matéria e energia que nos rodeiam, até mesmo a matéria formada por átomos, moléculas e iões. Os cientistas usam a Química para tentar compreender a Natureza e o Universo.

Falando de vantagens da Química, a principal delas, na minha opinião, é quando falamos da produção de medicamentos e tratamentos de doenças graves. Neste setor a química é essencial para a vida humana, a prova disso é o aumento da esperança média de vida das pessoas. Por outro lado, é também desenvolvido através da química, substâncias menos saudáveis à vida humana, como por exemplo as drogas. A Química tem coisas boas como coisas más, é tão perigosa como segura. Relativamente ao meio ambiente, a química ajudou na invenção de produtos químicos mais sustentáveis e na reciclagem de materiais que ajudam a reduzir o impacto negativo da atividade humana. Até mesmo nas energias renováveis, a química desenvolve um papel fundamental, na criação de células solares e baterias de lítio que ajudam a combater a dependência de combustíveis fosseis reduzindo os efeitos nas alterações climáticas que tanto ouvimos falar nestes últimos anos. Quando referimos a química nos alimentos que consumimos, onde esta diz torna-los mais “seguros e saudáveis” com adição de conservantes e pesticidas, todos sabemos que não é assim tão vantajoso, e existem estudos que comprovam que os usos de produtos químicos nos alimentos são causadores de novas doenças. E nos últimos anos, não só pela agricultura sustentável, mas também pela saúde humana, os produtos biológicos surgiram com o prepósito da não intervenção de pesticidas nos alimentos, tornando-os mais saudáveis, onde a Química também interfere. Existem vários outros benefícios da Química, impossível de enuncia-los a todos.  

Em suma, a Química, como referi anteriormente, é fundamental para a sociedade moderna na medida em que esta beneficia a nossa vida quotidiana. Digamos que é uma ferramenta poderosa que causa um grande impacto direto na nossa qualidade de vida e na evolução humana. Para além dos medicamentos a química faz parte igualmente da produção de alimentos e do desenvolvimento de novos materiais e tecnologias que usamos diariamente. Proporciona vários benefícios sociais tanto na saúde como na tecnologia e até mesmo no meio ambiente.

 A Química vista por Rita Vitorino (aluna da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

Por definição, segundo a infopédia dos dicionários Porto Editora, Química é a “ciência que estuda a natureza, as propriedades e as transformações da matéria e das substâncias”.

 No fundo, a química é a ciência que permite entender tudo aquilo que é invisível aos olhos do ser-humano e ainda assim, a química é e está em tudo aquilo que vemos e que sentimos.


É devido à Química que conhecemos o ciclo da água, do carbono, do azoto, e todos os ciclos naturais que se encontram em constante execução. E é também devido a essa mesma Química que podemos tirar partido de recursos naturais para produzir energia, por exemplo, quer seja energia de fontes renováveis ou não.

O conhecimento da química e dos processos químicos que ocorrem nas mais pequenas coisas são o que permitem a evolução e desenvolvimento da espécie humana.

Este conhecimento, usado da maneira certa pode ser muito benéfico. Utilizado mal intencionadamente pode causar muitos danos.

No entanto, o papel da química é essencial para o combate às alterações climáticas, por exemplo, como referido anteriormente, para a adaptação do uso das energias renováveis, ao invés do uso de combustíveis fósseis para criação dessa mesma energia. Cada vez mais os químicos, pessoas que estudam a química, se focam em aprender e em direcionar os seus conhecimentos para a exploração consciente dos recursos naturais.

Por muito tempo, más práticas adotadas pela química tiveram como consequência danos muito graves para o planeta Terra e para o ser-humano, como foi o caso, por exemplo, dos CFC’s presentes nos desodorizantes em spray que todos usávamos. Com o conhecimento do dano que estes componentes estavam a causar, medidas foram adotadas para que se extinguisse a utilização dos mesmos.

Também o facto de ter-se deixado de utilizar chumbo na gasolina após se perceber que este era um elemento extremamente nocivo à saúde das populações é outro exemplo visível em como a constante renovação do conhecimento na Química é importantíssimo.

É também importante que os conhecimentos trazidos por esta ciência previnam futuros problemas e evitem que sejam criadas situações prejudiciais de raiz e não apenas para evitar ou contrariar problemas já anteriormente criados.

Percebe-se assim, que o conhecimento, aliado às boas práticas e boas decisões, apenas tornam a Química e os químicos, elementos essenciais ao desenvolvimento humano e que permitem, por exemplo, aumentar a esperança média de vida das populações - através da medicina e das farmacêuticas - e também dar mais qualidade, dignidade e prazer às vidas humanas.

Em conclusão, a Química está sempre lá. Em tudo o que vemos, fazemos, sentimos… As ações e as tomadas de decisão do ser-humano perante a utilização da química e do conhecimento que com esta advém é que irão definir se a sua utilidade é ou não benéfica.

 

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/qu%C3%ADmica

 

https://books.google.pt/books?hl=pt-PT&lr=&id=LK2nDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=defini%C3%A7%C3%A3o+de+qu%C3%ADmica&ots=socpFkEHkh&sig=SUuYx1mCbieLy1DUqH1_hwydvEc&redir_esc=y#v=onepage&q=defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20qu%C3%ADmica&f=false

 

https://www.moodle.uevora.pt/2324/pluginfile.php/66594/mod_resource/content/2/Quimica_entre_Nos.pdf

 

https://www.moodle.uevora.pt/2324/pluginfile.php/66593/mod_resource/content/1/A_Quimica_nas_nossas_vidas.pdf

 A Química vista por Inês Silva  (aluno da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

Quando penso na palavra Química, e talvez seja suspeita por ser estudante de ciências, associo a uma ciência muito complexa e importante, que está na base de tudo o que nos rodeia, desde o orgânico ao inorgânico. O conjunto dos elementos químicos que consultamos na tão temida tabela periódica, e as transformações que sofrem, garantem não só a nossa sobrevivência, mas também o estilo de vida materialista das sociedades modernas. Ler os recursos disponibilizados, fez-me pensar em como é que a química é abordada no meu dia-a-dia e, de facto, acho que a sua omnipresença acabou por torná-la “banal”, porque apesar de ser uma força motriz no nosso desenvolvimento, a maior parte das referências que fazemos à química e, em particular, aos químicos, são sempre negativas, quer seja nos fármacos, nos alimentos, ou no ambiente.

É impossível não questionar, quando é que será que as pessoas começaram a temer a química e, apesar de não ser uma pergunta de resposta fácil, é largamente associado ao aumento do uso de pesticidas, em particular ao DDT, e surpreendeu-me o facto de já existir um termo para esta fobia. “Chemophobia” reflete o medo ou aversão a produtos químicos, e até à química. É interessante a crescente onda de “chemophobia” num mundo cada vez mais material.

O átomo é a unidade estrutural da matéria, e a síntese de produtos químicos permitiu-nos obter produtos que não existem de forma natural. Assim, os químicos estão presentes nas várias embalagens que usamos, nos detergentes, ajudam a conservar os alimentos e melhoram também a sua produção. Para além disto, aparecem em muitas outras indústrias, como na têxtil, e em particular, na farmacêutica. A química não só permite o acesso a uma grande variedade de medicamentos, como também permite o acesso a cuidados de saúde melhorados, desde a produção de antissépticos e desinfetantes, até aos instrumentos cirúrgicos. Por último, é impossível não falar do papel da química no desenvolvimento da tecnologia, porque sem esta não teríamos carros, nem telemóveis e, certamente, nunca veríamos os avanços e as melhorias que estes produtos têm sofrido nos últimos anos.

Este medo da química acaba por estar muito associado, não só a uma falha na comunicação entre os químicos e a população, mas também à desinformação que existe, uma vez que os argumentos utilizados muitas vezes não são bem fundamentados, como o Professor Carlos Corrêa ilustra muito bem quando fala na “má imagem da química”. Somos claramente mais propícios a temer o que não conseguimos detetar facilmente com os nossos sentidos, e a comunicação e discussão destes temas tem de ter isso em conta. No entanto, não quer isto dizer que não existam efetivamente quaisquer riscos.

A química também tem as suas desvantagens, sendo que algumas substâncias produzidas podem acabar por ser prejudiciais, como por exemplo o DDT e os CFCs, que acabaram por ter grandes impactes ambientais, e a talidomida, que provocou malformações em milhares de crianças. Assim, são fundamentais todas as medidas de controlo e fiscalização, para garantirem que o uso de substâncias químicas é seguro e não abusivo, e para prevenir a sua utilização perversa.

Por último, é importante não ignorar que, apesar das enormes vantagens que a química trouxe para a produção, o avanço do conhecimento científico acabou por nos deixar, não só mais confortáveis com a enorme produção de resíduos, em nome da melhoria das condições de vida da população, mas também sempre à procura de mais, aumentando o ritmo de reposição de bens materiais, devido à crescente facilidade de produção dos mesmos. Isto reflete-se num aumento da poluição, como por exemplo o caso dos plásticos.

Felizmente, o contínuo trabalho em química leva-nos também à Química Verde, que procura alternativas mais sustentáveis, de maneira a minimizar alguns aspetos negativos associados à produção de substâncias químicas.

 

Referências

BytesizeScience. (2011). A Day Without Chemistry [Video]. YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AbfW_CMMe48 

Chalupa, R., & Nesměrák, K. (2022). Chemophobia and passion: why chemists should desire Marcel Proust. Monatshefte für Chemie-Chemical Monthly153(9), 697-705. https://doi.org/10.1007/s00706-022-02945-5

Corrêa, C. (2011). A Química nas nossas vidas. Ciência Hoje. Disponível em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=49746&op=all

Ganesh, K. N., Zhang, D., Miller, S. J., Rossen, K., Chirik, P. J., Kozlowski, M. C., Zimmerman, J.B., Brooks, B.W., Savage, P.E., Allen, D.T. & Voutchkova-Kostal, A. M. (2021). Green chemistry: A framework for a sustainable future. Organometallics40(12), 1801-1805. https://doi.org/10.1021/acs.estlett.1c00434

Mendes, P. (s.d.). Química entre Nós [Notas de apoio à unidade curricular Sustentabilidade: uma abordagem transdisciplinar]. Disponível em https://www.moodle.uevora.pt/2324/pluginfile.php/66594/mod_resource/content/2/Quimica_entre_Nos.pdf

Mulzer, C. (2019). The incredible chemistry powering your smartphone [Video]. TED@DuPont. Disponível em https://www.ted.com/talks/cathy_mulzer_the_incredible_chemistry_powering_your_smartphone/transcript?language=en

UNESCO (2011) – Chemistry and Life. The UNESCO Courier, JANUARY - MARC H. ISSN 2220-2285. Disponível em https://webstorage.cienciaviva.pt/public/pt.cienciaviva.www/divulgacao/chemistry_life_unesco.pdf

 

 A Química vista por Ana Luísa Ferreira (aluno da PG@ASE da Universidade de Évora - 2023/2024)

 

Muitos (pouco informados) associamos a química a uma ciência, mas quando pensamos em químicos imediatamente vem à mente “hazard”, os resíduos perigosos que são produzidos essencialmente no sector industrial, na saúde e na agricultura, tais como pesticidas, antibióticos, promotores de crescimento, aditivos alimentares tóxicos, lubrificantes, tintas, etc.

Na realidade a Química está praticamente em todo o lado no nosso dia a dia, não se limita a substâncias sintéticas e é responsável em grande parte pela nossa qualidade e aumento da esperança de vida.

Se há um derrame de alguma substância industrial, por exemplo, que contamina e afeta os seres vivos, logo há o destaque internacional de um “desastre químico”. Cada vez se dá menos destaque a uma nova cura de doença (lá se disponibilizam um ou dois minutos do telejornal para um investigador jovem que ganhou algum prémio internacional) ou um novo método de combate à poluição.

Rather like Molière’s Monsieur Jourdain, who ‘spoke in prose’ without knowing it, we all practice chemistry, usually without being aware of it. (The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.10)

Quando estamos a cozinhar, por exemplo, estamos frequentemente a utilizar processos químicos. Os veículos, cada vez mais leves e seguros em situação de colisão, utilizam ligas desenvolvidas pela investigação química. E como poderíamos hoje em dia subir montanhas e fazer grandes caminhadas sem aquelas solas desenvolvidas para ser leves, flexíveis e duradouras? Como conseguiríamos viver sem o telemóvel, que integra tantos conhecimentos químicos?

Há de facto uma grande dose de iliteracia (ou negatividade) no que diz respeito à Química, ciência fundamental para o desenvolvimento (sustentável) do planeta, a ideia de que o que é natural é bom e o que é sintético (a que chamam “os químicos”) é mau. De facto, nem a química diz respeito apenas ao sintético nem tudo o que é sintético é mau pois “todas as substâncias, naturais ou de síntese, podem ser prejudiciais à saúde! Tudo depende da dose.” (Corrêa C., A Química nas Nossas Vidas, 2011). Substância química é um pleonasmo.

We still continue to turn to nature for the raw materials behind many medically and economically successful new treatments. Nature has provided over half of the chemical substances that have been approved by regulatory bodies across the world over the past 40 years  (Bolzani V., The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.24)

Há, no entanto, alguma razão para a associação dos “químicos” a substâncias, ainda que úteis, perigosas. Sendo uma das indústrias mais importantes e valiosas do mundo, durante décadas, não mostrou interesse na sustentabilidade ou proteção do ambiente (como toda a indústria e sociedade em geral). Foram necessários alguns grandes desastres industriais e uma crise ambiental para a mudança de mentalidade e a conversão da química suja (dirty chemistry) em química verde.

In the 1950s, nylon, plastic and Persil washing powder stood for progress. By the 1970s and 80s the image of the chemical industry was as dirty as its origins. (Bolzani V., The UNESCO Courier, january-march 2011, Pág.36)

A ciência que antes concorria no desenvolvimento desenfreado, sem olhar a meios ou consequências, apresenta hoje soluções e desenvolvimentos necessários à recuperação e do planeta, à melhoria das condições ambientais, no encontro de alternativas para os problemas climáticos. Encontram-se soluções químicas para a poluição química, projetos de controlo emissões e captura de dióxido de carbono e purificação do ar, limpeza dos oceanos. Lembro-me de quando os CFCs foram proibidos, no final da década de 80, porque destruíam a camada de Ozono: a química encontrou alternativas e a transição foi tão suave que praticamente nem demos por ela.

A química não é mais do que uma interação com o meio, cada vez mais profunda e rigorosa, que existe deste que o homem interage com o planeta. O aperfeiçoamento e o conhecimento provêm da experiência e alguns erros e catástrofes são inerentes e parte dessa aprendizagem e desenvolvimento. É fundamental ter em consideração de que a natureza é um ecossistema complexo, do qual fazemos parte, e a intervenção no mesmo tem consequências. É necessário ser cuidadoso ao intervir em qualquer ecossistema. E ter uma alimentação variada, que integre muitas frutas e vegetais, de fontes seguras, sujeitas a controlo dos aditivos autorizados (e respetiva dose admitida).