É inquestionável: a existência da
Ciência Química é fulcral para a satisfação das necessidades das populações. A
sua importância extrema resulta, por uma lado, da função indispensável que
exerce na criação de bens (materiais, medicamentos, etc. etc.) e, por outro
lado, é derivada da sua presença generalizada na “vida”… porque, na verdade,
todos somos química. Ainda assim, apesar do seu papel apreciável (mas
encoberto, muito próprio daqueles que trabalham nos bastidores) no desenvolvimento
e no bem-estar da população, a Química parece apresentar um descrédito por
parte das gentes, em virtude das nefastas desvantagens a ela inerentes
(poluições, contaminações, disseminação de substâncias prejudiciais, que não só
afectam a saúde humana, como originam desequilíbrios ecológicos, causando
danos, por vezes, irreparáveis) e ainda das histórias de trágicos acidentes que
marcaram, profundamente, o último século.
Parece-me importante salientar que, se
referi “vantagens” da Química, não referi “desvantagens” da mesma, mas sim
“desvantagens inerentes à sua ciência”. A linguagem pode parecer demasiado
diplomática. A verdade é que, a meu ver, é necessário desmistificar a acção da
Química e entender que, por vezes, não falamos de Química, quando parece que o
fazemos.
As desvantagens enunciadas são
dramáticas, algumas irreparáveis e, sem dúvida, todas lamentáveis. Mas, essas
desvantagens não derivam directamente da Química, enquanto ciência que procura
alcançar dados e conhecimentos sobre substâncias (que nos compõem e outras),
garantindo uma aplicação útil no nosso quotidiano. Essas desvantagens têm um
carácter muito mais político, moral e, por vezes, económico (derivado dos
interesses daqueles que têm maior poder financeiro) – resultam, sim, portanto,
da forma como a Química é aplicada, da má gestão da sua utilização e não da
Química propriamente dita, enquanto ciência. Creio que é, acima de tudo,
necessário garantir regulamentações e fiscalizações (confiáveis), que impeçam
ou tentem impedir ao máximo as desvantagens inerentes à Química, em virtude da
sua má utilização (que vai desde o simples agricultor que não respeita a
aplicação de produtos fitofarmacêuticos ao mais alto cargo político que poderá
defender, erroneamente, a acção de certas indústrias).
Desta forma, tendo em atenção as
agudas crises actuais (sociais, ecológicas, económicas, políticas) parece-me de
extrema importância, não só valorizar a Química como ciência, mas sim dar valor
ao trabalho feito e a fazer, que pode e deve ser utilizado no âmbito da
sustentabilidade. É importante ver a Química como um instrumento que contribui
para um Mundo mais sustentável e não como um “bicho-de-sete-cabeças” que nos
prejudica (porque, na realidade, quem mais nos prejudica somos nós).
Pedro Soares
Estudante da pós-graduação em Ambiente, Sustentabilidade e
Educação | e-learning | Universidade de Évora
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